quarta-feira, 1 de março de 2017

Crônicas Centrais 03

A Caixa - 01-

A Caixa tinha sua independência. Nos sentíamos os bacanas da área central e tínhamos uma certa  proteção e ligação direta com a turma do Alto da Bronze, pela sua pracinha com quadra de esportes, pois na nossa área onde hoje é a Praça da Harmonia, na época era um quartel e pela admiração que todo pré-adolescente e adolescente tem pelos mais velhos e vividos. Mas indo direto ao assunto, a Caixa tinha um time fixo de uns quinze rapazes, não conto aqui as garotas, umas doze no mínimo. E como toda turma daquela época, a Caixa preservava seu espaço, qualquer intruso, ou intrusos já era motivo de bronca. Bronca séria, quem passasse pela Caixa e tomasse uma ruim da galera, nem em cem anos voltava a passar naquele trecho. Certa vez o irmão do Katito, o Bola, flutuante da Caixa, pois logo se mudaram, reclamou para a gurizada que ao passar na recém feita Av. Perimetral, tinha sido agredido por uns medonhos que ali moravam e dominavam a área. Não deu outra, no domingo seguinte a gurizada da Caixa estava em peso, uns vinte e cinco, entre os chapa quente, os meia boca e os bunda moles, aqueles que viram macho quando em quadrilha. Tínhamos uma velha técnica, o falecido Gerson Renato, o Amarelinho, brabo, emburrado, marrento, como dizem os cariocas, era o dono da bola, parava o jogo quando tomava uma canelada e ficava jogando sozinho contra a parede da igreja das dores, até o pessoal perder a paciência e lhe roubar a bola e lhe encher de cascudos, aí vinha a sua mãe e fazia um discurso em defesa do filho no meio da quadra, era uma comédia, mas voltando ao assunto, ele era sempre escalado para “comprar uma briga”, mas quando era turma contra turma ia sempre junto o Harvey, esse sim, baixinho, forte, personalidade, galo cinza, invocado de graça, imagina provocado? E o resto da catrafa ficava escondido em uma esquina próxima, a outra parte da turma em uma quadra ao lado, ou nos dividíamos em duas equipes de ataque, uma pela frente outra por trás e enviávamos os dois para o meio dos adversários, já com o intuito de "comprar" e quando os adversários achavam que iam massacrar os dois, pois estavam em maior número, atacávamos tal qual os vikings, sem trégua nem piedade.
Essa era uma técnica de combate dos caixeiros que nem Sun Tzu, general chinês, filósofo e estrategista em batalhas, podia imaginar. 
Ressalto aqui que esse texto não é um elogio à violência, apenas o retrato de uma época e a inconsequência que muitas vezes o fogo da juventude encerra no peito dos jovens. 

Eduardo Simch

Obs: O fato tanto pode ser verídico como pura ficção, fica a critério dos leitores