segunda-feira, 19 de junho de 2017

Crônicas Centrais 05

Outsider


Fora da estrada, rebelde do fígado, decidi ir à volta do Gasômetro, logo encontrei Carlinhos Bugre, bebi alguns goles de sua cachaça barata, uns patricinhos e mauricinhas emprestaram o violão. Charlie disse: "o amor será eterno novamente",(rockeiro citando sambista; Nelson Cavaquinho) todos sorriram sem jeito. Emendei; "o poeta fala, quem tem saber interpreta" e, o baseado girou e girou o Charlie que de podre de bêbado começou a tocar na perfeita, mas antes ficou 20 minutos afinando o violão, quando ninguém aguentava mais, lascou Stones, Dylan e outros clássicos. O povo foi a loucura com a maestria de um 'sem teto'. A plateia foi aumentando e eu comecei a passar o chapéu, sem chapéu, na mão mesmo. O dinheiro daria para comprar champanhe, 480 reais e umas moedas , depois de umas dez clássicas e umas 8 músicas a pedido, saí e trouxe um fardo de ceva e uma garrafa de velho barreiro, todos já estavam voando, começava o por do sol mais famoso do mundo, as gatas dançando, a praia inteira se aproximou, surgiu um violão base e ainda uma gaita de boca, além de um atabaque, que automaticamente me apropriei. Tocamos os rocks do Charlie em um verdadeiro por de sol bailante, uma dupla de PMs cavalgava distante sem caravana e a matilha continuava latindo, ou melhor, cantando. A marijuana rodava sem parar e Bugre brilhava com seus acordes sendo a estrela da festa. A essa altura já era uma festa. Uma gata o beijou na boca, Charlie dormia na rua e fedia pior que cachorro. Outra bêbada linda começou a também beijar o Bugre. Feliz, via a plateia de alternativos, ipsters, mauricinhos, bichos grilo entre outras tribos, aplaudir. Comecei a me puxar na percussão, mas o povo só tinha olhos ao poeta. Na distância uma garota negra olhava de esguelha, fiz um sinal que se aproximasse levantando uma lata de ceva.  Ela veio e cheirosa  sentiu a minha solidão, talvez a nossa e, me beijou. O sol lentamente foi desaparecendo no horizonte do Guaíba, escrevendo no céu uma quase aurora boreal.


Eduardo Simch 

Obs: O fato tanto pode ser verídico como pura ficção, fica a critério do leitor.

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