sexta-feira, 25 de fevereiro de 2011

quarta-feira, 23 de fevereiro de 2011

Pablo Picasso e Jean Cocteau:


Picasso, Matisse, Chagall e eu, no litoral norte paulista, onde Renoir costumava viver. Temos tentado derrotar o espírito destruidor do nosso tempo. Temos ornamentados as superfícies que os homens sonham para demolir. Talvez o amor do nosso trabalho irá protegê-lo das bombas.
(La Villa Santo-Sospir)

Jorge Aragão- Falsa Consideração(Ao Vivo)


Pra não dizer que detesto tudo q se chame pagode, aqui vai um q curto.

Horóscopo chinês























quinta-feira, 17 de fevereiro de 2011

Poema em linha reta




Fernando Pessoa
(Álvaro de Campos)

Nunca conheci quem tivesse levado porrada.
Todos os meus conhecidos têm sido campeões em tudo.

E eu, tantas vezes reles, tantas vezes porco, tantas vezes vil,
Eu tantas vezes irrespondivelmente parasita,
Indesculpavelmente sujo,
Eu, que tantas vezes não tenho tido paciência para tomar banho,
Eu, que tantas vezes tenho sido ridículo, absurdo,
Que tenho enrolado os pés publicamente nos tapetes das etiquetas,
Que tenho sido grotesco, mesquinho, submisso e arrogante,
Que tenho sofrido enxovalhos e calado,
Que quando não tenho calado, tenho sido mais ridículo ainda;
Eu, que tenho sido cômico às criadas de hotel,
Eu, que tenho sentido o piscar de olhos dos moços de fretes,
Eu, que tenho feito vergonhas financeiras, pedido emprestado sem pagar,
Eu, que, quando a hora do soco surgiu, me tenho agachado
Para fora da possibilidade do soco;
Eu, que tenho sofrido a angústia das pequenas coisas ridículas,
Eu verifico que não tenho par nisto tudo neste mundo.

Toda a gente que eu conheço e que fala comigo
Nunca teve um ato ridículo, nunca sofreu enxovalho,
Nunca foi senão príncipe - todos eles príncipes - na vida...

Quem me dera ouvir de alguém a voz humana
Que confessasse não um pecado, mas uma infâmia;
Que contasse, não uma violência, mas uma cobardia!
Não, são todos o Ideal, se os oiço e me falam.
Quem há neste largo mundo que me confesse que uma vez foi vil?
Ó príncipes, meus irmãos,
Arre, estou farto de semideuses!
Onde é que há gente no mundo?
Então sou só eu que é vil e errôneo nesta terra?

Poderão as mulheres não os terem amado,
Podem ter sido traídos - mas ridículos nunca!
E eu, que tenho sido ridículo sem ter sido traído,
Como posso eu falar com os meus superiores sem titubear?
Eu, que venho sido vil, literalmente vil,
Vil no sentido mesquinho e infame da vileza.

segunda-feira, 14 de fevereiro de 2011

"Adam and Eve", do mestre dos mestres Gustav Klimt,

A segunda vez que eu morri

O fato é que a segunda vez que eu morri ocorreu antes da primeira, são acontecimentos que não se sujeitam nem ao tempo nem ao espaço. Praça do Alto da Bronze, 1965, esquina rua Duque de Caxias com a General Portinho. Depois de um saboroso café da manhã na casa de meu avô atravesso a rua e vou brincar na pracinha em frente sob o olhar vigilante de minha mãe. Com a energia dos meus cinco anos de idade me reuno a outras crianças para brincar de esconde-esconde, (antigamente chamava-se só brincar de esconder), onde um dos participantes fecha os olhos e conta até dez bem devagar e os outros procuram esconderijo. Terminada a contagem o primeiro a ser encontrado será o próximo a procurar. Ao lado da imensa paineira que existe até hoje nessa praça, havia várias outras árvores menores, entre elas um ipê amarelo no qual resolvi subir, mas não conseguia achar um galho que me ocultasse completamente, pois na brincadeira de esconder, para ser “achado” basta ser visto e como eu via o menino que fazia a contagem era lógico que ele também podia me ver. Sempre tive facilidade em subir em árvores e subi mais um galho e mais um. O problema é que esse “mais um” não era nem um galho, mas um ramo, fui apresentado ao famoso “frio na barriga”, um suspiro curto e uma pontada no estômago. Despenquei seis metros parando sentado no chão de terra batida. Sentado caí, sentado fiquei. Quando notei que não conseguia levantar e nem dobrar a coluna para a posição ereta chamei pela minha mãe, que na verdade já estava ao meu lado junto com outros pais e curiosos. Lembro-me como se fosse hoje quando um homem quis pegar-me no colo, do outro lado da rua meu avô gritou com autoridade; ninguém toca no menino, foi a primeira e única vez que vi meu avô gritar. Chegou bem próximo a mim e passando levemente a mão na minha cabeça disse; deita de lado Duá, (meu apelido de infância), em seguida pediu ao zelador da praça para trazer uma tábua de construção e cuidadosamente me colocou na mesma posição em cima da tábua. Fui carregado por dois voluntários na maca improvisada até a casa de meu avô, do outro lado da rua. Ainda em cima da mesma tábua, agora colocada sobre a mesa de jantar, senti as manoplas do neurocirurgião, meu avô, apalparem-me a base da nuca, e minuciosamente irem descendo vértebra por vértebra. Um pouco abaixo da metade das costas senti uma fisgada e meu avô, quase com felicidade disse; é aqui! Não sei que milagre se passou, mas ao término de uma forte pressão de seus dois polegares senti um alívio imediato estiquei as pernas endireitei a coluna e adormeci. Meia hora depois já estava correndo pela casa. Foi a segunda vez que eu morri.